“A poesia não se entrega a quem a define.


Mário Quintana


quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Devaneios


Proteção sem saber

O ônibus sacolejou e eu coloquei a mão entre o vidro e a cabeça dele, meu melhor amigo, que dormia serenamente, aquele sorriso sempre de lado, meio coringa, meio maluco, meio criança, meio tanta coisa que não dava pra ser uma pessoa só, tinha que ser pelo menos umas 4 pra tanto meio que ele era...

Minha mão correu pelas costas dele, e ele se ajeitou no meu joelho dobrado como criança no colo da mãe, ele era meu melhor amigo, meu confidente, meu filho, onde eu colocava inutilmente todas as minhas frustrações, e ele moleque, brincava com elas como se fossem peteca e no fim do dia, só repousava e dormia sorrindo.

Ele parecia personagem de livro, eu juro, parecia um desenho animado, uma versão meio magrela do Robin ou uma versão mais comprida de um outro boneco de ação, e ria, como ria! Galante, vocabulário de adulto dos anos 50, e um sorriso encantador, esse era meu melhor amigo...
Comia que dava gosto de ver, se lambuzava e sorria, só ria, encantava qualquer pessoa com um brilho nos olhos que ninguém enxergava, ou que ele não mostrava pra ninguém além de mim... Enfeitiçava as pessoas como uma sereia com seu canto, atraía olhares e partia corações, de mim arrancava sorrisos e algumas orações.

E sempre que ele cansado repousava do meu colo, eu cantarolava um canção pra ele recobrar as forças, e eu sempre colocava a mão entre o vidro e a cabeça dele quando o ônibus sacolejava: Assim eu protegia meu melhor amigo que me protegia sem saber, apenas com um sorriso!

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