Proteção sem saber
O ônibus sacolejou e eu coloquei a mão
entre o vidro e a cabeça dele, meu melhor amigo, que dormia serenamente, aquele
sorriso sempre de lado, meio coringa, meio maluco, meio criança, meio tanta
coisa que não dava pra ser uma pessoa só, tinha que ser pelo menos umas 4 pra
tanto meio que ele era...
Minha mão correu pelas costas dele, e ele
se ajeitou no meu joelho dobrado como criança no colo da mãe, ele era meu
melhor amigo, meu confidente, meu filho, onde eu colocava inutilmente todas as
minhas frustrações, e ele moleque, brincava com elas como se fossem peteca e no
fim do dia, só repousava e dormia sorrindo.
Ele parecia personagem de livro, eu juro,
parecia um desenho animado, uma versão meio magrela do Robin ou uma versão mais
comprida de um outro boneco de ação, e ria, como ria! Galante, vocabulário de
adulto dos anos 50, e um sorriso encantador, esse era meu melhor amigo...
Comia que dava gosto de ver, se lambuzava
e sorria, só ria, encantava qualquer pessoa com um brilho nos olhos que ninguém
enxergava, ou que ele não mostrava pra ninguém além de mim... Enfeitiçava as
pessoas como uma sereia com seu canto, atraía olhares e partia corações, de mim
arrancava sorrisos e algumas orações.
E sempre que ele cansado repousava do meu
colo, eu cantarolava um canção pra ele recobrar as forças, e eu sempre colocava
a mão entre o vidro e a cabeça dele quando o ônibus sacolejava: Assim eu
protegia meu melhor amigo que me protegia sem saber, apenas com um sorriso!
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