Acordei como se saudade fosse uma dor de dente
Que aperta bem lá no fundo, mas espalha por toda a cabeça e logo você já
não sabe onde começa a dor... E ela apertou no peito, espalhou até me deixar
meio zonza, e as lágrimas começarem a sair dos olhos involuntariamente
encharcando o rosto e umidecendo a camiseta surrada do pijama.
Corri pro espelho tentando salvar a alma que parecia que queria pular
também pelos olhos, tentei segurar, mas saíam só lágrimas, e as mãos
tornaram-se pesadas, o fardo maior do que eu podia carregar, a boca já sentia
todo o suor da alma, o salgado das lágrimas, o sabor da saudade que eu ainda
tinha pra derramar.
Despi o pijama numa pressa descontrolada, querendo lavar o corpo como se
a saudade fosse também sujeira, além de sabor e dor de dente que escorria num
todo por mim... A água correu gelada incomodando a espinha, arrepiando os pêlos
do braço e fazendo a respiração ofegar, depois descansando a testa no azulejo a
saudade desceu pelo ralo e eu pude sair de casa vestindo um sorriso bonito escolhido
a dedo da gaveta, depois de enxugar o resto de saudade na toalha que eu esqueci
em cima da cama...
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