Liberdade no ninho...
Zap! Ouvi não tão longe, seguido de um gritinho de
excitação infantil.
-Tia peguei! Peguei! Peguei passalinho! E os olhos
eram tão vivos e bonitos que me doeu o coração saber que era um pequeno
caçadorzinho... E ele vinha de arapuca entre os dedos gorduchos, tropicando nos
próprios sapatos...
-Ai ai ai menino, passarinho é bicho livre, não gosta
de ficar em gaiola...
-Mas eu peguei, é meu! Vai cantar pla mim! Canta canta
passalinho! E seus olhinhos inocentes brilharam sem ter muita noção do que
fazia...
E o passarinho não cantou, piou miúdo pedindo socorro,
um chororô que só quem entendia que gosto tinha a liberdade podia exprimir...
Resolvi testar o bonito pivete...
-Vem cá com a tia, dá cá um abraço! E ele veio, sem
saber das minhas intenções sem coração... Abracei-o e segurei seus bracinhos
entre os meus dedos, sem força-los lógico... Ele tentou sair uma, duas, três
vezes achando que era brincadeira.
Vendo que eu não largava, bateu-lhe um desespero que
começou a debater-se entre meus braços, segurei-lhe também com as pernas, seus
olhos brilharam com tom de choro e me cortaram como se eu fosse a pior pessoa
do mundo.
-Brinca menininho, brinca... Sussurrei inocente, sem
querer parecer irônica ou malvada demais pro menino rechonchudo e bonito que eu
amava...
-Larga tia, larga, e abriu o berreiro,
Abracei-o e disse que o passarinho que ele pegara
sentia-se do mesmo jeito. Ele enxugou os olhos brilhantes na barra da camiseta,
correu pra arapuca e abriu, deixando o passarinho sair voando, num desespero
igual ao do menino quando se livrou dos meus braços... Ele cabisbaixo voltou
sua atenção para carrinhos e caminhões que ainda estavam espalhados no quintal.
A noitinha, já depois da hora de dormir ouvi o canto
bonito de um pássaro, uma risada e fui conferir... Ele acenava freneticamente de
janela aberta e falava: ”Canta passalinho, canta, canta! Canta passalinho!” Ao
notar minha presença abriu-me um sorriso e disse que o “passalinho” havia
voltado pra agradecer e que ele tinha aprendido a lição, e que tinha até
escolhido um nome pro seu novo amiguinho... Como me espantei com o nome que o
danadinho havia dado pro passarinho que era até pouco tempo atrás seu
prisioneiro e agora amigo.
-"Ele chama Liberdade tia, Liberdade”.
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