“A poesia não se entrega a quem a define.


Mário Quintana


quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Devaneios


Liberdade no ninho...

Zap! Ouvi não tão longe, seguido de um gritinho de excitação infantil.
-Tia peguei! Peguei! Peguei passalinho! E os olhos eram tão vivos e bonitos que me doeu o coração saber que era um pequeno caçadorzinho... E ele vinha de arapuca entre os dedos gorduchos, tropicando nos próprios sapatos...
-Ai ai ai menino, passarinho é bicho livre, não gosta de ficar em gaiola...
-Mas eu peguei, é meu! Vai cantar pla mim! Canta canta passalinho! E seus olhinhos inocentes brilharam sem ter muita noção do que fazia...
E o passarinho não cantou, piou miúdo pedindo socorro, um chororô que só quem entendia que gosto tinha a liberdade podia exprimir... Resolvi testar o bonito pivete...
-Vem cá com a tia, dá cá um abraço! E ele veio, sem saber das minhas intenções sem coração... Abracei-o e segurei seus bracinhos entre os meus dedos, sem força-los lógico... Ele tentou sair uma, duas, três vezes achando que era brincadeira.
Vendo que eu não largava, bateu-lhe um desespero que começou a debater-se entre meus braços, segurei-lhe também com as pernas, seus olhos brilharam com tom de choro e me cortaram como se eu fosse a pior pessoa do mundo.
-Brinca menininho, brinca... Sussurrei inocente, sem querer parecer irônica ou malvada demais pro menino rechonchudo e bonito que eu amava...
-Larga tia, larga, e abriu o berreiro,
Abracei-o e disse que o passarinho que ele pegara sentia-se do mesmo jeito. Ele enxugou os olhos brilhantes na barra da camiseta, correu pra arapuca e abriu, deixando o passarinho sair voando, num desespero igual ao do menino quando se livrou dos meus braços... Ele cabisbaixo voltou sua atenção para carrinhos e caminhões que ainda estavam espalhados no quintal.
A noitinha, já depois da hora de dormir ouvi o canto bonito de um pássaro, uma risada e fui conferir... Ele acenava freneticamente de janela aberta e falava: ”Canta passalinho, canta, canta! Canta passalinho!” Ao notar minha presença abriu-me um sorriso e disse que o “passalinho” havia voltado pra agradecer e que ele tinha aprendido a lição, e que tinha até escolhido um nome pro seu novo amiguinho... Como me espantei com o nome que o danadinho havia dado pro passarinho que era até pouco tempo atrás seu prisioneiro e agora amigo.

-"Ele chama Liberdade tia, Liberdade”.

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