Olhos cansados de um filhote antigo
A chuva caía pesadamente do lado de fora,
a xícara de café esquentava minimamente as minhas mãos e a minha cachorrinha
sentava-se no meu pé direito, me fazendo olhar pra baixo, cruzando seu olhar
com o meu:
-Tá chovendo lá fora mesmo, pelo visto
demora pra passar...
Ela se espreguiça como se essa fosse a
nossa deixa de uma tarde preguiçosa de livros, comidas e monotonia. Resolvo por
em ordem alguns textos no computador e ela calmamente depois de comer caminha
até a sala e levanta as patas pedindo colo.
-Folgada. Resmungo falsamente, porque ela
é peluda e me olha com os olhos brilhantes e cansados, de quem quer aconchego,
mas eu não sei se é pra ela ou se ela leu minha alma e veio me dar carinho...
Descansou a cabeça entre os meus joelhos
e quando eu terminei de escrever colocou a cabeça gentilmente em cima do
teclado
-Quer ver se ficou bom? Ela me olha com
os olhos grandes e brilhantes e eu afago as orelhas peludas e cheirosas dela.
Carrego-a pro sofá onde deitada ela se
ajeita na minha barriga e coloco um filme pra assistir e ela atentamente
acompanha o cachorro da televisão e quando ele late ela rosna baixinho com
preguiça querendo me defender ou só chamar atenção, um tapinha gentil no topo
da cabeça e ela me olha com os olhos brilhantes e cansados, de quem vai
aproveitar a tarde e o colo pra dormir até a chuva passar...
E o silêncio do apartamento, o vento
balançando as chaves na porta, fazem com que ela levante uma orelha atenta, e
me olhe, e eu indago os olhos grandes e brilhantes que cansados me consolam,
dizendo que a solidão que eu sinto vai passar assim que eu fechar os olhos e
sentir o roncar do bicho peludo e cheiroso que dorme comigo a anos e que sem
reclamar me faz companhia e enxuga minhas lágrimas com afagos de filhote antigo
e nunca esquecido, e a chuva lá fora embala o sono de duas velhas companheiras
que tem os olhos cansados demais pra notar que um arco-íris vem chegando...
Nenhum comentário:
Postar um comentário