“A poesia não se entrega a quem a define.


Mário Quintana


sábado, 4 de dezembro de 2010

O pierrot da minha escrivaninha! Parte II

"Lembro-me da primeira vez que nos vimos...Eu era uma menina, por volta de uns 10 anos, era gorducha, cabelos castanhos sempre presos numa trança, e era aniversário da vovó Adélia...
Eu estava sentada em uma das cadeiras da sala, e esta, estava finamente decorada, toalhas e babados por todos os lados, rosas amarelas ( as preferidas da vovó) enfeitando as mesas e outras partes da casa. Vi então algo cintilar em minha direção, cobri os olhos por um momento, esfreguei-os e vi sobre a mesa um homemzinho engraçado, vi-o pular da mesa, largando a colher que segurava no chão. Tia Magnólia, que estava ao lado da mesa, e que devia estar muito entretida nas conversas para não reparar em tal figura, se assustou com o barulho que a colher fez ao atingir o chão, olhou meio torto, recusando-se a abaixar para pegar a colher e simplesmente se afastou.
Levantei-me, caminhei lentamente até a mesa, sobos olhares atentos daqueles que estavam na sala, peguei a colher e meti-a no bolso do vestido. Quando a música se tornou mais alta convidando todos a encontrarem seus pares e começar a bailar, e ainda, alguns adultos se concentravam nas conversas chatas sobre economia e política, enfiei-me em baixo da mesa.
Procurei-o sem encontrar, e quando me virava para sair, ouvi risadas, bem baixinho, como se alguém as estivesse abafando, encontrei com a cabeça a mostra, atrás de um dos pés da mesa.
-Ei homemzinho, volte aqui! Sussurrei tentando chamar-lhe a atenção, mas sem sucesso.
Ele pulava na minha frente, ria e se escondia de novo, começara então nossa brincadeirade esconde-esconde debaixo das mesas da sala. O pequeno corria para se esconder, sempre deixando uma pista que eu pudesse seguir: a ponta do sapatinho engraçado que ele usava, aparecendo debaixo de um pedaço de toalha, o chapéuzinho caído no chão, e a mãozinha que ligeira e sobre risadas resgatava-o, denunciando o paradeiro de seu dono.
Eu o seguia e chamáva-o: - Homenzinho, ei, Homenzinho, pare de se esconder.
Até que ele parou de correr, não vi nem sombra dele, nem nada que pudesse indicar onde ele estava escondido. Sentei-me,ainda embaixo da mesa, cruzei as pernas e sustentei o queixo com as mãos.Olhando para os lados, tentando ainda procurar a estranha criaturinha...
- Me dá essa colher que está no seu bolso? Ouvi uma voz perto de mim, ainda sem saber de onde vinha.
- Quê? Quem disse isso?
- Eu ué!
- Eu quem?
- Eu Billie, oras!
- Não conheço ninguém chamado Billie, vamos, apareça!
- Só apareço se me der a colher...
Tirei a colher do bolso do vestido, segurei-a entre os dedos, o faixo de luz rompia a toalha da mesa refletia na colher e na parede eu via o reflexo dançar, eram manchas de luz que dançavam conforme eu movia a colher de sentido e direção. Até que uma vozinha me interpelou :
- Ah vai, me dá a colher, vocês tem um monte aí!
- E porque você quer uma colher?
- Porque ela é bonita oras.
- Aparece que eu te dou a colher.
- Tá bom!
Diante de mim, quase no meu nariz surge, de repente um homenzinho vestido de palhaço, me assustei, mas nao gritei, bati a cabeça na parte debaixo da mesa, ouvi um barulho, vi passos em volta da mesa... Respirei fundo e silenciei, vendo isso, já tendo tomado a colher de mim. Ele riu, riu alto, jogou-se no chão e continuou rindo. - Você é engraçada.
- Shiu, fica quieto, eles vão te ouvir
- Não vão não! Sé você consegue me ver e ouvir.

A próxima parte eu escrevo depois.

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