“A poesia não se entrega a quem a define.


Mário Quintana


sábado, 18 de dezembro de 2010

Pierrot da minha escrivaninha parte III




- Porque só eu consigo te ver?
- Porque você é criança, oras!
Emburrada, lembrando-me das palavras de mamãe retruquei-o:
- Não sou não, minha mãe disse que eu sou mocinha já.
- Mocinha? Com essa cara?
- O que tem minha cara? perguntei passando a mão no rosto.
- Você tem cara de criança...
- E você? Você tem cara de... Ei! Espantei-me ao fixar o olhar naquela criaturinha estranha. Você não é um homenzinho, você é só um garoto... Porque é desse tamanho? O que você é?
- Ai, quanta pergunta... e só garoto não, eu sou o Billie! Disse-me sorrindo graciosamente.
- Eu sou a Anne!
- Olá criança Anne, disse-me tomando meu dedo indicador entra suas mãos e balançando,
Puxei-lhe o dedo e quase o fiz cair, fingindo estar brava cruzei oa braços:
- Mas minha mãe disse que eu não sou mais criança..
- Ah é? Olha então. Colocando a colher na minha frente para que eu me visse refletida nela.
   Eu tinha mesmo cara de criança, se bem que não sabia que diferença faria se eu fosse mocinha ou não. Olhei pra ele, que fazia careta do outro lado da colher, rindo com as formas engraçadas que seu reflexo tomava, arrumou o chapéu, e ensaiou um, dois, e tres sorrisos, até que virando-se em minha direção me sorriu, e eu vi um sorriso tão bonito, e eu sorri também. Ele colocou a colher no meu nariz e soltou:
- Olha, mágica, disse ironicamente, e eu ri... Até que:
- Anne! O que você está fazendo aí embaixo? Sua mãe está te procurando...
- Vovô,é...eu estava brincando com... interrompi minha fala olhando os olhos atentos de vovô
- Você estava brincando com quem Anne? Eu não vejo ninguém. Vovô olhou para os lados e sorriu.
  Olhei para o garoto-palhaço e ele sorrindo fez um gesto para que eu ficasse calada.
- Com ninguém vovô, eu estava brincando sozinha...
  Vovô me pegou pela mão, levantou-se e lavantou a toalha para que eu pudesses sair. Mamãe logo veio :
- Anne, olha seu vestido, está todo sujo, o que você estava fazendo embaixo na mesa menina?
- Calma Giovanna- interviu vovô- a Anne estava brincando comigo, não brigue com ela.
- Mas papai, a Anne não está mais na idade de ficar brincando embaixo da mesa.
- Deixe a menina brincar filha, você quando tinha essa idade rolava pelo quintal. Vovô riu quando mamãe se encabulou
- Mas papai... Mamãe então se calou ao olhar fundo nos olhos de vovô.
 Estendendo a mão, ele se voltou para mim com um largo sorriso:
- Vamos Anne,vamos brincar lá fora.
 Puxei seu braço levemente e ele abaixou-se.
- Tato, ele pediu pra não contar, mas lá fora eu te conto tá? Ele apenas assentiu com a cabeça.

   Meu avô se chama Anastácio, mas eu sempre o chamava carinhosamente, e quando não havia ninguém por perto de Tato. Ele tinha cabelos brancos, como se fossem de algodão, um grosso bigode que ainda tinha alguns fios escuros e que faziam cócegas quando ele me beijava a bochecha. A boca de Tato sempre sorria, até mesmo que ele estava bravo ou triste.Seu olhos eram doces, suaves, e transbordavm ternura, tinham o azul da cor do céu. 
  Vovô mesmo sendo gente grande, era meu melhor amigo!

   Fomos para o quintal, Tato sentou-se no nosso banco favorito, e eu sentei-me aos pés dele, apoiando minha cabeça em seus joelhos.
- Anne, sua mãe vai ficar brava se te vir sentada aí no chão.
- Deixa Tato, eu gosto de ficar assim, disse olhando nos olhos mais doce que eu veria em toda a minha vida.
Pousando a mão sobre minha cabeça: - Agora me diga, com quem você estava brincando? Você parecia tão feliz, será que você tem um novo melhor amigo?
- Não Tato, você é o meu melhor amigo, sempre foi e sempre vai ser.
Então contei-lhe o que havia se passado embaixo da mesa.
- Billie? É esse o nome do seu novo amiguinho? Ele parece ser engraçado pelo que você descreveu...
- E é Tato, ele se veste super engraçado e disse que eu consigo vê-lo porque eu ainda sou criança, mas a mamãe diz que eu sou mocinha agora... Tô confusa...Vovô riu
- Você é uma pequena mocinha, daqui algum tempo você será uma mocinha completa... Mas você ainda pode ser criança. Entendeu?
- Entendi mais ou menos. Cocei a cabeça tentando entender como eu podia ser duas coisas ao mesmo tempo.
- Vamos fazer um trato então?
- Que trato?
- Você pode ser criança com esse seu amiguinho o Billie e com o Tato, com as outras pessoas você finge que é mocinha, tá?
- Tá! Sorri e inclinei-me novamente, repousando sobre os joelhos do vovô, fechei os olhos por um minuto, mas pareceu uma eternidade e eu adorei aquele momento,
- Anne? Você dormiu?
- Não Tato, to ouvindo... Disse ainda sem abrir os olhos.
   Vovô suspirou longamente, fazendo com que eu abrisse os olhos:
- Você vai me contar tudo o que fizer com esse seu amiguinho? As brincadeiras, as histórias, você sabe que eu adoro quando você conta histórias, não ? 
- Pode deixar Tato, eu conto sim.
  Vovô ficou em silêncio, ainda com a mão sobre minha cabeça.
- Espero que ele possa cuidar de você... Murmurou.
- O que Tato? Disse alguma coisa?
- Nada Anne, vamos entrar, está ficando frio.

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